O senhor é minha força meu escudo; nele o meu coração confia e dele recebo ajuda.
(Salmos 28:7)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

parei um pouco de escrever para olhar pela janela e principalmente para ver se eu conseguia deter o parafuso entrando no pensamento. acho que consegui. porque quando começo assim não consigo mais parar, e não quero que eles me deem aquela injeção, não quero ouvir eles dizendo que não tem remédio, que eu não tenho cura, que você não existe. eu acho graça e penso em como você também acharia graça se soubesse como eles repetem que você não existe. depois eu paro de achar graça e fico olhando a porta por onde não entra o telefone por onde você não fala e me lembro do pedaço apodrecido daquela maçã e então penso que talvez eles tenham razão, que talvez você não venha mais, e com dificuldade consigo até pensar que talvez você não exista mesmo. mas não é possível, eu sei que não é possível: se estou escrevendo para você é porque você existe. tenho certeza que você existe porque escrevo para você, mesmo que o telefone não toque nunca mais, mesmo que a porta não abra, mesmo que nunca mais você me traga maçãs e sem as suas maçãs eu me perca no tempo, mesmo que eu me perca. vou terminar por aqui, só queria pedir uma coisa, acho que não é difícil, é só isso, uma coisa bem simples:quando você voltar outra vez veja se você me traz uma maçã bem verde, a mais verde que você encontrar, uma maçã que leve tanto tempo para apodrecer que quando você voltar outra vez ela ainda nem tenha amadurecido direito. !

(CAIO FERNANDO ABREU)

Nenhum comentário:

Postar um comentário